E a Pergunta Que Não Quer Calar: Quem Matou John Medeiros?
Por Alexandre Ramos
Nessa sexta-feira, aguardávamos, ansiosos, o lançamento de Murder, a websérie dirigida por João Vitor Zanato. Nossas já altas expectativas foram superadas positivamente.
A história, simples do ponto de vista de cenários e quantidade de personagens reveste-se, porém, não só de profundo suspense e uma profunda incógnita quanto aos possíveis assassinos, como também de personagens profundos, com seus dilemas sondados em toda sua riqueza pela câmera de Zanato. John Medeiros, por exemplo, o personagem por ora mais complexo, representa de certa forma um "Rei Midas" contemporâneo, um homem que apesar de todo o dinheiro que tem vive no mais profundo medo e incapaz de estabelecer relações verdadeiramente humanas. E, principalmente, é também um fraco; incapaz de dar vazão a todo seu rancor em ações efetivas, não consegue sequer demitir seus empregados que tanto odeia. No filme, essa ruptura na natureza do personagem, quando distancia-se aos olhos do espectador de sua "aparência" de pai de família feliz, e revela sua "essência" de fato, se dá após esbravejar com a empregada por um mero incidente. De tal forma John se vê isolado e paranoico que também o espectador passa a ver em cada personagem uma razão que os colocaria enquanto potenciais assassinos: nos empregados, uma relação odiosa de dependência, da qual não conseguem se livrar (seria algum deles o assassino? Ou ambos?); na esposa, uma relação superficial e, ao que parece, triste (seria ela a assassina?); no filho, uma dificuldade cada vez maior em manter viva a admiração e confiança em seu pai, enquanto vê a forma que este trata seus empregados (seria ele o assassino?); no irmão, o desejo de obter o dinheiro que, acredita, é seu por direito e John apoderara-se de forma podre (seria ele o assassino?). Nota-se a positiva influência de gênios como Allan Poe.
O filme, naturalmente, não conta com alto orçamento, mas ao melhor estilo Cinema Novo, Zanato e o diretor de fotografia e editor, Ricardo Vitaliano, mostram-se extremamente capazes de aplicar técnicas profissionais de enquadramento, com uso seletivo de planos (fechados e medios, de conjunto e meio-primeiro plano, etc) e ângulos. Na montagem, destacar-se-á o breve mas dramático plano-sequencia que antecede o assassinato de John, bem como a cena do banheiro, onde a sucessão de takes contém também uma bela fotografia baseada em cores escuras que ajudará na dramaticidade conferida ao homem que, apesar do dinheiro, vive no medo, rancor e covardia. Podemos dizer que, ao que se propõe, a direção cumpre com maestria.
Quanto às atuações, destaca-se inconteste Zanato, firmando-se como um promissor ator. Com uma expressividade profunda na voz e nas feições, é capaz de transmitir toda a complexidade de seu personagem - a dramaticidade que encarna na cena final do primeiro episódio é digna de ser citada. Quanto às outras atuações, novamente, ao que a série se propõe, não deixam a desejar.
Em suma, Murder, nesse primeiro episódio, promete uma websérie capaz de entreter profundamente e mesmo fazer refletir qualquer espectador, superando as limitações orçamentárias que dispõe. Todos os envolvidos em sua produção mostram-se mentes extremamente criativas e promissoras, dignas de todo o apoio; quanto a nós, espectadores, resta aguardarmos ainda mais suspense nos próximos episódios: quem matou John Medeiros?
Por Alexandre Ramos
Nessa sexta-feira, aguardávamos, ansiosos, o lançamento de Murder, a websérie dirigida por João Vitor Zanato. Nossas já altas expectativas foram superadas positivamente.
A história, simples do ponto de vista de cenários e quantidade de personagens reveste-se, porém, não só de profundo suspense e uma profunda incógnita quanto aos possíveis assassinos, como também de personagens profundos, com seus dilemas sondados em toda sua riqueza pela câmera de Zanato. John Medeiros, por exemplo, o personagem por ora mais complexo, representa de certa forma um "Rei Midas" contemporâneo, um homem que apesar de todo o dinheiro que tem vive no mais profundo medo e incapaz de estabelecer relações verdadeiramente humanas. E, principalmente, é também um fraco; incapaz de dar vazão a todo seu rancor em ações efetivas, não consegue sequer demitir seus empregados que tanto odeia. No filme, essa ruptura na natureza do personagem, quando distancia-se aos olhos do espectador de sua "aparência" de pai de família feliz, e revela sua "essência" de fato, se dá após esbravejar com a empregada por um mero incidente. De tal forma John se vê isolado e paranoico que também o espectador passa a ver em cada personagem uma razão que os colocaria enquanto potenciais assassinos: nos empregados, uma relação odiosa de dependência, da qual não conseguem se livrar (seria algum deles o assassino? Ou ambos?); na esposa, uma relação superficial e, ao que parece, triste (seria ela a assassina?); no filho, uma dificuldade cada vez maior em manter viva a admiração e confiança em seu pai, enquanto vê a forma que este trata seus empregados (seria ele o assassino?); no irmão, o desejo de obter o dinheiro que, acredita, é seu por direito e John apoderara-se de forma podre (seria ele o assassino?). Nota-se a positiva influência de gênios como Allan Poe.
O filme, naturalmente, não conta com alto orçamento, mas ao melhor estilo Cinema Novo, Zanato e o diretor de fotografia e editor, Ricardo Vitaliano, mostram-se extremamente capazes de aplicar técnicas profissionais de enquadramento, com uso seletivo de planos (fechados e medios, de conjunto e meio-primeiro plano, etc) e ângulos. Na montagem, destacar-se-á o breve mas dramático plano-sequencia que antecede o assassinato de John, bem como a cena do banheiro, onde a sucessão de takes contém também uma bela fotografia baseada em cores escuras que ajudará na dramaticidade conferida ao homem que, apesar do dinheiro, vive no medo, rancor e covardia. Podemos dizer que, ao que se propõe, a direção cumpre com maestria.
Quanto às atuações, destaca-se inconteste Zanato, firmando-se como um promissor ator. Com uma expressividade profunda na voz e nas feições, é capaz de transmitir toda a complexidade de seu personagem - a dramaticidade que encarna na cena final do primeiro episódio é digna de ser citada. Quanto às outras atuações, novamente, ao que a série se propõe, não deixam a desejar.
Em suma, Murder, nesse primeiro episódio, promete uma websérie capaz de entreter profundamente e mesmo fazer refletir qualquer espectador, superando as limitações orçamentárias que dispõe. Todos os envolvidos em sua produção mostram-se mentes extremamente criativas e promissoras, dignas de todo o apoio; quanto a nós, espectadores, resta aguardarmos ainda mais suspense nos próximos episódios: quem matou John Medeiros?